Com uma linguagem direta e sem rodeios, Assim na terra como embaixo da terra prende a atenção do ouvinte logo nos primeiros trechos. Este eletrizante e premiado romance de Ana Paula Maia narra o cotidiano de uma colônia penal isolada em vias de desativação.
Construída em um terreno com histórico tenebroso de tortura de escravos e assassinato, a instituição foi criada para ser um modelo de detenção do qual preso algum jamais fugiria. Com o tempo, o objetivo inicial de socializar os detentos para reinserção na vida em comunidade foi sendo deturpado. Na prática, a colônia se transformou em algo muito diferente: uma espécie de campo de extermínio. Nos últimos dias de funcionamento, o clima no local, que conta então com poucos apenados, é de aparente calma. No entanto, pouco a pouco os horrores vividos ali vão sendo revelados.
O agente superior Melquíades é a maior autoridade por trás daqueles muros, e também o algoz dos presos. Nas noites de lua cheia, o chefe libera alguns condenados da tornozeleira e ordena que corram. Ele, então, inicia um sinistro jogo, caçando os homens com seu rifle como se fossem animais selvagens, apenas por satisfação pessoal.
Os presos, cada qual com sua história, estão sempre planejando a própria fuga, sem saber se vão acabar mortos pelos guardas ou pelo que os espera do lado de fora da Colônia.
Fruto da sensibilidade e do talento de Ana Paula Maia, Assim na terra como embaixo da terra surge em um momento de discussão sobre a situação do sistema penitenciário no Brasil, com a ascensão de um discurso extremista e violento oposto às políticas de defesa dos direitos humanos. Um livro impactante e necessário, que nos leva a olhar para aqueles indivíduos a quem restam somente o trabalho que ninguém quer fazer e o desprezo da sociedade.