O livro nos mostra, com singular propriedade, que o fenômeno do assédio exige um olhar diferenciado não apenas do legislador, mas da história. É necessário compreender que durante séculos nossa cultura, tanto popular como acadêmica, tem legitimado esse tipo de violência. A reunião de mulheres com o fim de expor num livro as experiências de assédio vivenciadas projeta vozes de tantas outras que ainda se encontram submersas em grupos que legitimam a prática como algo tido como simples socialização. Os relatos nos fazem refletir que os avanços obtidos não são fornecidos, óbvios e evidentes em si mesmos. Ao contrário, nossas lutas imprescindíveis para que possamos nos situar num ambiente predominado por homens, como o sistema de justiça, foram durante anos rechaçadas como “antinatural” pela maior parte da sociedade — inclusive por mulheres.