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José Eduardo Agualusa

Catálogo de luzes

Um homem cai em um buraco e, depois de dias na escuridão, volta à superfície estranhamente mudado. Outro, paga o preço por desafiar o poder da magia. Um taxista vende crenças sob medida para cada passageiro. O homônimo de um famoso tenor vive escondido no interior do Brasil, fugindo de seu passado misterioso. Um inexperiente terrorista é surpreendido pela vítima em um elevador. Essas e outras personagens povoam a prosa de contos de José Eduardo Agualusa que, agora, ganha coletânea de suas melhores histórias pela Gryphus Editora.

Catálogo de luzes (os meus melhores contos) reúne algumas dessas e outras histórias, destaques da carreira do autor, selecionados pelo próprio Agualusa. A diversidade é a marca da antologia, cujos contos saltam do realismo fantástico para o político, passando pela religião; de fatos corriqueiros para conceitos filosóficos ou tiradas inusitadas com alta voltagem de humor. Assim acontece com a velha senhora desiludida com a luz elétrica de «Porque é tão importante ver estrelas»: «Tendo deixado de se confrontar, todas as noites, com o ilimitado, o infinito, a fantástica imensidão do universo — os homens perderam a humildade, e com a humildade perderam a razão, o desvario do mundo está na opinião dela, diretamente ligado ao êxodo rural e à multiplicação vertiginosa das grandes cidades.»

A morte é um dos temas abordados pelo autor na antologia. Em “A bigger splash” um rapaz descobre que vai morrer e não revela a ninguém: «Não me assusta a morte; o que temo é a promiscuidade, ter de a partilhar, ter de viver com alguém até ao fim. A minha morte é um enigma íntimo”. Em “O inferno de Borges”, o poeta argentino que havia vislumbrado o pós-morte cercado de uma eterna biblioteca, chega ao céu e se depara com intermináveis corredores de bananeiras. Compreende que deve ter sido confundido pelo Senhor Deus, com outro escritor, o colombiano, Garcia Marques.

O livro, com prefácio da atriz e escritora Maitê Proença, ainda traz três contos inéditos de Agualusa. Em “Esquecimento”, a travessia de um rio é o convite ao esvair-se das memórias. Quais os desejos que você faria na chegada do Ano Novo? Esse é o dilema da personagem de “A primeira noite”. «Não há nada mais deprimente do que a alegria dos tristes”, diz o narrador, perdido numa festa de réveillon. Só restavam-lhe passas nas mãos. Desejos faltavam-lhe. E, em «A última”, Sofia tenta entender o significado do título que lhe é atribuído, e que dá nome ao conto.

A prosa de Agualusa mostra sua multiplicidade. O autor se interessa por toda coisa, mas até o que é comum, em suas histórias, ganha ar extraordinário.
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Telif hakkı sahibi
Bookwire
Orijinal yayın
2013
Yayınlanma yılı
2013
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