Apesar dos temas ousados para a época, o enredo parte de uma premissa simples: Raoule entra na floricultura de dois irmãos pobres, Marie e Jacques Silvert. A aristocrata fica imediatamente fascinada com a androginia e a graciosidade do delicado Jacques, rapaz sensível e aspirante a pintor. Com a ideia de tê-lo para si, ela propõe então uma espécie de mecenato a Jacques, que, nas mãos de Raoule e da irmã alcoviteira, prostituta e alcoólatra, passará por um processo de “embonecamento”. Raoule, a marido, decide tomá-lo como esposa, ditando as regras da relação a seu bel prazer, até mesmo de maneira cruel.
Ainda, além dessas relações de desejo e poder em Senhor Vênus, surge um quarto personagem fundamental intervindo nesse bizarro quiprocó erótico: a figura viril do barão de Raittolbe, amigo e antigo amante de Raoule. Assim como Raoule, Raittolbe trava uma relação sádica com o próprio Jacques, a quem certa vez espanca e deixa gravemente ferido. Muitos devaneios e manipulações se desdobram até a antológica cena final do romance, que encarna fielmente a estética decadentista do mórbido e do artificial cantado por Baudelaire n'As Flores do Mal. Além disso, Senhor Vênus faz alusão ao mito de Pigmaleão, antecedendo, porém, em trinta anos à primeira publicação da peça homônima de Bernard Shaw.